Um caso de amor com Lena Olin

Sentado no sofá da sala, completamente à-toa, decidi dar uma chance a uma série da qual já tinha ouvido falar várias vezes: “Alias”, estrelado pela atriz em ascensão Jennifer Garner. Resolvi assistir ao programa (na época, exibido pelo canal AXN) já meio desconfiado. Séries não estavam funcionando mais para mim. Impaciente com risadinhas gravadas de sitcom americanas, desestimulado a acompanhar “24 horas” a partir da segunda temporada e sem achar o menor charme nas bruxinhas de “Charmed”, sentia-me um pouco desencorajado a ver o que Alias tinha a oferecer.


Por ironia do destino, quando liguei a TV, estava passando justamente o episódio piloto desse seriado escrito por J.J. Abrams (o mesmo de “Lost” e “Felicity”). A premissa (resumida – BEM resumida) era interessante: “Sydney Bristow parece ter uma vida normal, mas na verdade tem uma vida secreta como agente da SD-6, ramificação da CIA. Mas seu mundo vira de cabeça para baixo quando seu noivo é assassinado e ela descobre que pode estar trabalhando para o inimigo que pensava estar combatendo”. Viciante. O episódio piloto parecendo um filme, fui ficando maravilhado a cada nova revelação, com sensacionais cliffhangers e personagens bem construídos.


A partir da segunda metade da primeira temporada, a série é bombardeada com dois enredos: a) a mãe de Sydney, dada como morta num acidente de carro, era na verdade uma agente da KGB que se casou com Jack Bristow (pai da protagonista) com o propósito de extrair informações da CIA, e poderia estar viva; e b) a busca pela identidade do “O Homem”, alguém que estava por trás de recentes conspirações contra organizações criminosas. A maior surpresa, no entanto, se dá no final da primeira temporada, quando o telespectador descobre que a mãe de Sydney, Irina Derevko, não só está realmente viva como ela é “O Homem”! E é aí que entra Lena Olin.


Lena foi responsável por grande parte do charme da segunda temporada. Depois de décadas sumida, sua personagem se entrega à CIA disposta a ficar mais perto da filha, enquanto fornece informações preciosas para a agência de espionagem norte-americana. Ambígua, racional, geniosa, Lena, como Irina, era a medida exata. Uma temporada inteira abrilhantando cenas causou impacto. Na terceira temporada, embora a série continuasse boa, não pude mais contar com doses semanais da presença positivamente incômoda de Irina Derevko. E fui ficando com saudades.


Foi assim mesmo, com saudades do rosto desta atriz sueca, que decidi alugar os filmes que ela já havia estrelado. Comecei com “Inimigos: Uma História de Amor”, no qual ela interpreta a jovem Masha, uma das três mulheres com as quais o protagonista se envolve. O papel lhe rendeu uma indicação ao Oscar e um prêmio da associação de críticos de Nova York. Ainda não completamente contente, continuei minha jornada pelas locadoras atrás de sua sexy e irrefreável Sabina na filmagem de “A Insustentável Leveza do Ser”, clássico de Milan Kundera. Em seguida, uma dupla de personagens paradoxais: como a assassina fria Mona Demarkov em “O Sangue de Romeo”, Lena era forte como uma Irina sem coração; como a pacata Josephine Muscat em “Chocolate”, Lena era submissa pela primeira vez.


Percebi, assim, que minha paixão por Irina já não cabia mais. Lena era mais que Irina. Lena era Irina e era também Masha, Sabina e tantas outras. Irina transcendeu e se transformou em Lena Olin, cujas performances me encantaram. Estranha admiração.


Vê-la em outros papéis ajudou a suprir a falta da personagem nas temporadas subseqüentes de Alias. Entretanto, quando eu já tinha me contentado com a partida definitiva de Irina, eis que, nos últimos capítulos da quarta temporada, entra uma mulher de vestido azul balançando os cabelos numa embaixada em Viena. Lena era Irina de novo. Ah, essa mulher...